terça-feira, 23 de setembro de 2008

fim do mundo

Agora cedo tava assistindo ao telejornal matinal e fiquei sabendo do acidente de ônibus que perdeu os freios, acho que em Dois Irmãos, nessa madrugada. De acordo com os relatos dos passageiros sobreviventes (quase todos), o motora tentou de tudo pra evitar uma catástrofe maior, e aparentemente conseguiu, visto que só o próprio motorista e uma passageira morreram. O primeiro, não podendo evitar a própria morte, tornou-se heróico e deu um jeito de salvar o máximo possível de pessoas. Já a moça em questão, vendo que o ônibus estava sem freio, pediu pra que o motorista abrisse a porta e se jogou na estrada. Se jogou.

Isso me lembrou uma apocalíptica, porém animada, conversa que tive com amigos no dia anterior à ativação do famigerado LHC. Eu acho um absurdo que o mundo acabe, considerando que irá acabar de qualquer forma, em uma fração de segundo, pra gente nunca ficar sabendo. Se é pra terminar, que seja caótico, com direito a cavaleiros do apocalipse, portais pra outras dimensões, invasão extraterrestre, pragas. E o mais importante: eu quero ver. 

Esse pensamento em relação a catástrofes sempre me acompanhou. Claro, eu digo isso sentadinha na frente do computador, envolta e protegida (ou não) por todo um reino de cimento. Mas sempre achei que, não importa qual será minha sorte na hora da despedida, quero pagar pra ver até o fim e, de preferência, tentar evitar até o último segundo. 

Mas o meu conceito de evitar tá mais relacionado a resistir do que a fugir. Essa moça que pulou do ônibus provavelmente o fez para se salvar e isso me lembrou um causo de incêndio há alguns anos. Talvez eu esteja distorcendo um pouco a história, mas o resumo é que um apartamento pegou fogo num bairro boêmio da capital e a moradora, desesperada, acabou se atirando mesmo sendo orientada pelos bombeiros a não fazer isso. No fim, ela não resistiu à queda e (essa parte que eu não sei se é delírio) parece que até o cãozinho dela foi retirada do apartamento com vida mais tarde. E essas duas histórias me causaram o mesmo espanto. Por que diabos alguém se atira direto pra morte quando sempre há uma esperancinha, por mínima que seja?

Aí eu percebo uma inversão. Talvez o salto delas seja mais corajoso que a minha suposta resistência. Mas a real é que eu sempre acho que alguma coisa vai acontecer pra dar tudo certo. Talvez eu tenha assistido a filmes da Disney demais na infância. Volta e meia me pego crente de que o masterplan vai providenciar uma reviravolta cinematográfica na vida e tudo vai mudar. Sério, eu tenho a maior predisposição pra ser fanática religiosa do mundo. Às vezes me abatem surtos de profetiza ou de guia espiritual e vivo pregando por aí coisas como "aguarde e confie" ou "reflita". (Aliás, aproveito para agradecer a paciência de quem escuta da pessoa mais incoerente do mundo esse tipo de conselho.) Eu sou mesmo uma comediante. Mesmo quando falo sério soa pastelão. Mas a real é que, embora deteste esperar e saia atropelando tudo o tempo todo, eu tenho mó crença nas conspirações do universo. Deixa eu, cada um com seus problemas. 

Agora refletindo sobre o tema (me aconselhei a parar e pensar), vejo que nenhuma opção é mais ou menos corajosa. Embora chame de otárias todas as pessoas que suicidam em filmes quando há catástrofes iminentes - sem nem tentar escapulir ou ver qualé -, na vida real não me dou o direito de ter uma opinião formada. Ainda mais quando é pirracenta desse jeito. São dois modos diferentes de encarar. Quem opta por tomar as rédeas da situação pode pensar algo como "bem, morrerei de qualquer forma e, por mais que fosse sobreviver agora, logo mais já estaria de partida então deixa que pelo menos eu escolho de que maneira se dará o fim." Já eu penso que seria daquelas que usaria o combo "fé em qualquer coisa + charlatanismo" pra enganar a dona morte pelo máximo de tempo, só pra que possam dizer que eu cheguei na última fase. Pelo menos é o que a consciência me apresenta em situações hipotéticas. 

Hoje sonhei que levava um tiro à queima-roupa, mas não morria. O meu eu onírico chegou a rir quando percebeu que não tinha acontecido nada. Totalmente de acordo com minha cabeça louca, eu to sempre espalhando por aí que tenho o corpo fechado. Mas a minha mania de esperança no masterplan não é inteiramente grátis. Até hoje não me decepcionei com as forças ocultas do universo (que me pergunto se estão no mundo ou na cabeça das pessoas). E, bem, eu caí de um carro em movimento em plena avenida, em horário de movimento,  e sequer me arranhei (não deu nem pra matar aula). Eu fui atropelada de ré quando estava com mononucleose, o carro bateu exatamente no meu baço, e só ralei os joelhos. Esse mesmo carro estava a passar por cima de mim e só parou porque o ônibus chegou e o motorista (sempre eles, heróis) buzinou loucamente até o cara parar. Sei lá, talvez eu tenha sorte mesmo. E tenho sorte de ao menos acreditar nisso. 

3 comentários:

Música em pessoa disse...

eu confio no teu sexto sentido. comigo, sempre deu certo. ah, e tá verossimilhante a história da moça (uma jornalista) que se atirou pela janela do apto da sarmento leite enquanto pegava fogo e, minutos depois, teve seu mascote salvo intacto pelos bombeiros. mas, também, pensa o desespero! morrer sem ar na queda é melhor que ter a carne queimada. ui.

cecilia disse...

ah é assim q se morre jogada, é(sem ar)? sempre achei q era do espatifamento q se morria.

anyway, achei o LHC deveras perigoso e fiquei com um leve medinho. mas me irritei mesmo pelo fato de q se der problema, não vai ter como alguém chegar com o dedo na cara deles "viram? viram? seus irresponsaveis!!", pq vociferar contra os culpados é a melhor parte dos problemas.

administrador disse...

arrá! sabia que tu era a fonte da notícia, nalaura. gracias pela confirmação.

e, cê, nunca tinha pensado nisso, mas realmente, poder vociferar o famoso "eu te disse!" é a melhor parte de um problema, mesmo quando a gente se f%$&7 junto.

na verdade, eu tenho cérteza que esse maldito LHC é o responsável por essa vibe estranha que tenho sentido no mundo. cérteza.