Tá, não tenho, assim, orgulho dessa fase, né? Mas é parte da minha história, não posso ignorar.
Aí num sábado escaldante da vida, minha melhor amiga à época e eu fomos ao Centro comprar UM cd pirata dos Racionais (era só o que a verba permitia) como prêmio de consolação, pois não poderíamos ir ao show deles que teria mais tarde por essas bandas - acho até que nesse mesmo dia.
Lá estávamos nós, serelepes, camisetão, calça jeans, tênis podre e o famigerado moletã amarrado na cintura (era verão? e daí? o estilo tá em primeiro lugar!), curtindo horrores o passeio...
PAUSA!
Eu curtindo o Centro da cidade num dia de calor? Sim! As coisas mudam, né, pessoal? Ainda bem! Mas lembrem-se sempre do objetivo mór do passeio antes de estranhar minha alegria. Isso é o de menos, creiam.
ENTÃO!
Numa dessas andanças entramos no segundo shópis mais chinelo da cidade e, enquanto descíamos pelas escadas rolantes avistamos um bonezinho IGUAL AO DO ED ROCK!
- Isso quer dizer absolutamente nada pra mim.
Eu sei. Vamos à colaboração visual, então.
Só que esse boné aí não é o mesmo. Na época ele usava sempre um vermelho, mó legal, que foi o que nós reconhecemos.
Ainda não suspeitávamos que era ele mesmo, de verdade, carne e osso, porque, meeeeu, o que uma baita celebridade dessas tava fazendo no meio da rafuagem?
Ahahahahahahaha. Juuuuuuuro que o pensamento foi esse!
Retomando então, pela ordem dos acontecimentos.
Amiga enxerga o boné e me cutuca. Ela fala “olha, igual do édi róque”. Eu concordo. A gente observa o dono do boné. Um cara grande, com um puta rádio ligado no ombro (tocando rap, looooogico) e um cara duas vezes maior que ele do lado. Os dois com mó pose de mano.
Foram dois segundos eternos de silêncio enquanto caía a ficha. As duas se olharam em choque, transbordando de emoção: É O ED ROCK!
(fi-as-co! todo mundo olhou)
E ele sumiu!
Desespero, pânico, pavor. Perdemos uma oportunidade de ouro de falar com nosso ídolo ao vivo e a cores!
Aí começou a busca incessante. Rodamos o Centro inteiro loucamente (menos o shópin, percebam o erro fatal) atrás do superstar. Em vão.
Te meeeete! Os caras eram todos espiadões com essa coisa de fã, imprensa e pá. Mó estilão, vai dizer? Respeito, brou!
Aí nessa de empurra-empurra eu fui, toda cagada de medo, falar com Ed. E então, entre os camelôs, praticamente avancei no cara e foi uma coisa tipo assim, ó:
Só que eram dois mais o rádio, e não quatro.
Aí empostei a voz (tive que gritar, na verdade) e disse:
- Dá licença? Tu é o Ed Rock dos Racionais, né?
Aguardei o chute no rim. Em vez disso, veio a resposta:
- Sô.
Tremeu a terra! Tenho certeza! Acho que a voz de Lúcifer é mais ou menos assim. Pânico.
- Bah, olha só, tu TEM que me dar um autógrafo.
(gente, eu tinha que provar pros meus amigos que eu tinha visto o cara e falado com ele. Naquela época não existia essas firulas de camerazinha digital e escambau)
- Tá.
Uhuuuuu! Ele disse “tá”!
Agora só restavam dois problemas: papel e caneta.
O desespero voltou com tudo. Alopramos todo mundo na volta pedindo caneta e o mundo nos ignorava afu. Ed só olhava e aguardava pacientemente as duas loucas se descabelando alucinadas. E era um olho na galera, outro no ídolo, né? Vai que ele foge...
Aí um camelô importado se solidarizou e enquanto procurava a caneta perguntava?
- ¿Es Rrrracionais? ¿Rrrrracionais la musica? (nada mais me lembro)
Nós:
- É, é, isso aí. Lança a caneta, por favor? Por favoooorrr?
Em posse da caneta, precisávamos de papel. Num ato de coragem, catamos um pedaço de sei lá eu o que no chão (com pegadinhas de sola de sapato e tudo) e dividimos em dois.
Pronto! Assina aí, Ed!
E ele ainda bateu um papo com a gente! Perguntou se ia rolar de ir no show, a gente disse que não tinha grana, ele não nos deu ingresso (puto!) e tudo mais.
Nos despedimos e fomos em busca do CD pirata, tentando conseguir um desconto (!) com o nosso autógrafo. Ninguém aceitou a proposta.
Já na parada do bus, Ed passou a alguns metros de nós. Ficamos olhando e ele acenou com a cabeça. Puxa!
Bom dia: éramos amigonas dum astro da música e ainda tínhamos um CD camelô pra escutar na baia. Não precisávamos de mais nada.
4 comentários:
Tu é realmente surpreendente. Se tu quiser te consigo os autógrafos do Mano Brown, do Ice Blue e do Kl Jay pra completar a coleção.
ahahahahahha
eu querooo!
são relíquias, to te dizendo. aí a gente espera eles morrerem, mais um pouquinho pra rolar a mitificação e vende os autógrafos por milhões!
Melhores versos:
A mina era VRIGI
E ainda era MINÓ
Agora faz chupeta
Em troca de pó
ahahahahhhaa
eu gosto muito daquela parte:
dim, dim, dom!
rap é o som
que emana do opala már-roonnn!
aliás, já que temos alguns experts no assunto aqui no guichê, o pessoal poderia compartilhar quais são seus versos favoritos dos racionais. eu não vou brincar porque todos são meus favoritos. heh
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