sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

lua de cristal

Lembram da cristaleira que foi violentamente atacada por um pedaço de concreto devido a uma atitude estúpida de um milico retardado em uma das casas em que morei na infância? Não? Uma memória pra vocês, então.

Well, people, essa cristaleira é daquelas que ainda bem que não fala, que nem o colchão de vocês, tão ligados? Ela ainda existe, na casa da minha dinda, creio eu. Garanto que lá ela continua se metendo em tremendas confusões, feito que objeto inanimado algum jamais conseguiu antes.

Uma das atitudes mais notáveis do esperto móvel de decoração ocorreu não na minha infância - época em que ela já se encontrava um tanto debilitada e, portanto, era mais vítima do que agente da ação -, mas na de papito. A cristaleira ficava ao lado (diagonal, próxima? não sei, não vi, só ouço falar) da mesa de jantar da família, à época. Estava lá papi, uma criança travessa (como todos da nossa espécie), mas um pouco pateta (idem) brincando de pega-pega Tom e Jerry Style com um amiguinho ao redor da mesa.

Pausa pra explicar a brincadeira idiota: Tom e Jerry Style é aquela em que um corre atrás do outro loucamente e em algum momento eles ficam correndo em círculos, como se cavalinhos de carrossel fossem, até que o que é menos burro se atina a sair do círculo e deixar o outro correndo sozinho (se é o perseguido) ou parar e colocar o pé pro outro tropeçar (se é o que persegue...ou não).

Então lá estavam os palermões, digo, palerminhos, no corre-corre até que o menos burro, que infelizmente não é da minha família, teve a luz de Jerry sobre sua cabeça e deu uma de malandro pra cima de meu papito. Aí nessa atitude impensada, o jovenzinho passou a perna em papi e o fez desequilibrar, balançar, rodopiar, tudo em alta velocidade, e por fim, o pequeno maia acabou entrando na cristaleira!

Não precisa dizer que a diversão terminou no hospital, né? Aí meu pai precisou colocar (fazer? whatever) enxerto no braço. Até hoje ele mente pra mim que é carne de ovelha, vaca, ou qualquer outro animal da fazenda. E eu total acreditava quando era pirralha (pra vocês verem que ele jamais poderia ser o Jerry, visto que a patetice é hereditária). Diz que o amiguinho permanecia angustiadíssimo na sala de espera do hospital, arrependido de possuir tamanha astúcia. O médico finalmente apareceu e chamou ele na chincha, disse:

- Teu amigo vai ficar bem, mas ele precisa de enxerto. Então eu vou precisar de um pedaço da tua bunda pra colocar no braço dele.

Hahahahahahahahahahahahah!

Melhor médico de todos os tempos! Que mané House, que nada! O negócio é tocar terror nas criancinhas.

Aí a reação do amiguinho. Soluçando e já arriando as calças, o jovem Jerry* respondeu:

- Tudo bem...snif...pode tirar...snif...pra ajudar meu amigo.

ÓOoowwnnnn!

Eu SEI que vocês fizeram óoowwwnnn também! A-pos-to.

Realmente, o desfecho da história é muito tocante. Não é sempre que se encontra um amigo disposto a dar bunda por você. Pense nisso.

Quando estávamos entre os irrrmãosh cariocaish, contei essa história pela primeira vez (fora do estado) e, imediatemente, a perspicaz turma achou que entrar na cristaleira era uma boa expressão, gíria, enfim. O sentido é semelhante ao de enfiar o pé na jaca mas infinitamente mais poético. Pensa bem, tu faz uma merda porque é paspalho ou porque alguém te passa a perna - ainda que de brincadeirinha - e acaba entrando na cristaleira. Só que no nosso modo de vista (A/C Bambam) é uma situação bastante otimista, porque depois sempre aparece alguém disposto a se sacrificar (dar a bunda, no caso) para melhorar a coisa pro teu lado.

Essa semana acabei ampliando o sentido da expressão. Uma amiga (que, por incrível que pareça, ainda não estava ciente dos fatos supracitados) contou que um de seus parentes já em idade avançada e não batendo muito bem - com todo o respeito - tinha cer-te-za que morava na cristaleira e tava sempre abrindo a porta e dando tchauzinho, vou pros meus aposentos. Não é incrível? É o entrar na cristaleira versão livre arbítrio.



*doravante, a criança não identificada da história será mencionada como Jerry (do Tom).

2 comentários:

cecilia disse...

adorei a historia comovente!!

e claro q eu fiz óóóówwnnnnn!!!

(acabou de rolar o desfecho da super emocionante demissao do meu estagiario, entao estou sensivel. uhauhauhauhaauhuha... mas sério, depois de tudo fiquei com pena do rapazote)

administrador disse...

fraca!
ahahahaha


mas que o seria trágica a despedida eu tinha cér-teza. a dica é: pensa no futuro. daqui umas duas semanas o alívio apaga totalmente o remorso. heh