segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Exposição de motivos

Desde a grande virada na minha pacata mas contente rotina de estagiária eu tenho sentido uma vontade tremenda de me expressar. Assim, se um pouco mais idiota eu fosse, diria: eu sou uma árvore! E me colocava a balançar os braços abertos no sol, fazendo a fotossíntese. Se uns 20 anos mais jovem eu fosse, pintava as paredes de casa com giz de cera, num revival de arte rupestre quinze mil anos mais tarde (e ainda estaria adiantando a tendência de 3.512). Se afinada eu fosse, lançava umas composições supimpas no MySpace pra ver se eu ficava famosa e milionária, assim, de repente.

Vivendo oito preciosas horas do meu dia dentro de uma repartição pública (arrá!) tive que diminuir radicalmente a minha média de palavras faladas por minuto. Em contrapartida, o número de palavras digitadas subiu drasticamente. A cada e-mail que recebo exigindo uma resposta simples, escrevo 100 linhas de pura alucinação inútil, vergonhosamente ratificando o meu desespero por atenção em horário de expediente. Não que trabalhe com autênticos Vogons, aqui tem gente muito simpática. O problema é que, contrariando uma das grandes verdades universais, aqui tem trabalho pra mais de metro, sô. E também, convenhamos, não é qualquer coisa bemlôca que a gente pensa que dá pra falar no local de trabalho, né? E também não vou lançar polêmica, tipo, digrátis, como se no buteco estivesse. Assim como não posso discorrer sobre o mundo, a vida e as pessoas com qualquer seromano que aparece no guichê. Até porque, apesar dessa ânsia faladora, sou antipaticíssima com estranhos, detesto quase todos eles e adoro ser total megera com quem tenta puxar papo comigo, em especial no ônibus. Por essas e outras tenho que cuidar muito bem dos meus amigos, se não depois não acho outros. De modo que estava começando a esculhambar tudo colocando em risco o emprego do pessoal de tanta abobrinha cibernética. Foi mal aí.


Justificativa

De uns tempos pra cá, não suprindo minhas necessidades especiais de desabafos sobre a vida, o mundo e as pessoas, comecei a escrever freneticamente sobre qualquer coisa. Enquanto trabalhava na área da comunicación, vejam só, não escrevia meia linha sobre a existência. E isso me faz perceber que, na verdade, isso tem relação com outra necessidade: de público.

Em algum lugar no passado, amigo meu disse que eu era APARECIDA. Não aparecida como Nossa Senhora foi, mas no sentido de exibida colorida, a que come casca de ferida. Fiquei passadíssima. Na época me achava total humilde e não admiti d’jeitomaneira que eu fosse tal coisa. Tanto que, na maior cara de pau, sempre disse que (engasgo) blog é coisa de gente que quer aparecer e que eu nunca, nem morta, nem pagando, ia ter um. Mas a gente fica velho e começa a se aceitar, né? Então, amigo neogênio, você tinha razão. Eu sou total aparecida e preciso de atenção. E não admito o desaforo de alguém não rir das minhas piadinhas infames ou não prestar atenção nas minhas hitórias, me irrito. Pronto, desabafei. Então claramente o meu problema não era só não poder me expressar como também estava com falta de platéia pras minhas intervenções. Afinal, se apenas metade do problema eu tivesse, bastava recuperar umas bonecas no brechó da minha vó e recriar minhas tramas de amor, traição e redenção da época das barbies e comparsas. Mas, bem, digamos que o botão “publicar” brilha e brilha.

Um dia todos os processos que protocolei valerão milhões por causa minha assinatura no carimbo de recebimento. Começarei a fazer assim: recebido na seção de protocolo, love and kisses, Juliana. Yeah.

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